Rock Borders: Salve, Thiago e Alemão! Para começar do começo (risos), como vocês entraram em contato um com o outro para formar a Dália Negra, e como foi o processo para a escolha do estilo. Para finalizar a primeira questão, como vocês definem o som praticado pela banda?
Thiago Ridolfi: A Dália surgiu em 2017. Gabriel Jarbas (bateria) e eu já tocávamos em uma outra banda juntos e trabalhávamos como professores em uma mesma escola de música. Depois que a outra banda terminou, nos juntamos com um outro professor da escola e resolvemos montar um "power trio". Eu sempre gostei de compor e comecei a mostrar para eles minhas músicas. Naturalmente fomos nos entrosando e montando os arranjos juntos. Em pouco tempo já tínhamos um repertório formado de músicas próprias.
Eu acredito que podemos nos definir como um "power trio" de Rock Nacional, que mistura diversas influências, do Metal mais pesado até a música Pop.
Rock Borders: O primeiro trabalho já chegou embebido em muita personalidade, tanto no teor musical quanto lírico, você poderia discorrer um pouco sobre as letras e temas abordados pela banda e sobre as influências musicais?
Thiago Ridolfi: Eu sou apaixonado por música e arte em geral. Em especial quanto ao meu gosto musical, ele é bastante variado. Gosto de Bach e Mercyful Fate. De Villa Lobos e Engenheiros do Hawaii. Acredito que minhas composições são uma soma de todas essas influências. Mas é claro, grande parte da riqueza sonora da banda é a mistura das influências de cada um dos integrantes. Tive muita sorte em encontrar parceiros afinados com meus gostos e anseios e poder transformar isso em arte e música.
Sobre a temática das letras, prefiro falar sobre dramas cotidianos e obras literárias. Hora ou outra o tema amor surge, mas confesso que tenho uma tendência em abordar questões menos triviais.
Rock Borders: Poderia nos falar um pouco sobre a gravação dos materiais, tanto do primeiro trabalho auto-intitulado, e o single "V de Vingança"?
Thiago Ridolfi: Nietzsche costumava dizer que só lhe interessava o que fosse feito com sangue. Gosto de pensar assim também. Nossos trabalhos são todos resultados de enorme esforço, dedicação e paixão. O primeiro álbum foi gravado em Londrina (PR), produzido por nossos parceiros Fernando Arruda e Beto Jorge (Betão). Jarbas e eu pagamos toda a gravação do nosso bolso, com a grana de professores de música. Tivemos a colaboração do nosso grande amigo Marcos Kircheim, que gentilmente compôs e gravou as linhas de baixo.
Já o single “V de Vingança” foi gravado no "Estúdio MOP", do nosso amigo Pedro Mello, também em Londrina. Contou com a participação do baixista Haru Katata, que deixou a banda logo em seguida porque teve que se mudar pra São Paulo.
São trabalhos orgânicos, que tentaram captar ao máximo possível o entrosamento e a pegada rock n´ roll que a banda tem ao vivo.
Rock Borders: Alemão, você entrou para o "barco" em 2020, e já é um músico experiente e consagrado do cenário de Londrina e região, gozando de respeito e uma musicalidade ímpar. Como é a convivência dentro da banda, e como foi o processo de entrosamento num quesito geral?
Alemão: Eu tive a oportunidade de conhecer a Dalia em ação, quando eu tocava com a Purplehead, uma banda de covers setentista, em um evento em um templo budista (coisas do rock!). Já me causaram uma excelente impressão. Ano passado, pouco antes da pandemia, o baixista mudou da cidade e resolvi entrar em contato com eles para uma possível entrada na banda. Acabou dando certo, no primeiro ensaio já curti muito, e a recíproca aconteceu. Fizemos alguns shows, e a química realmente funcionou, sendo que no período mais duro da pandemia acabamos parando as atividades. Retornamos agora, e sinto que ficou melhor ainda, já trabalhando em novas músicas para futuras gravações. O entrosamento, tanto musical como pessoal, é da melhor qualidade, e, apesar da diferença de idade, tenho o prazer de poder fazer música com dois caras muito inteligentes, o que só agregam na música e na vida. Tem sido realmente um prazer.
Rock Borders: A postura contestadora de várias bandas em relação ao atual governo geralmente causa inconvenientes, como entusiastas e seguidores alucinados do presidente redigindo basbaques de diversas estirpes. Para citar um exemplo, o primeiro som do debut auto-intitulado veio com um ataque bem direto ao nosso "amado" chefe de estado. Como foi a reação do público em geral ao se deparar com esse posicionamento da banda?
Thiago Ridolfi: Na verdade a música “Efeito Moral” tem como principal tema um terrível incidente ocorrido no Paraná, quando o então governador usou de severa violência pra conter o protesto dos professores que ali reivindicam por melhorias. É claro que ela representa também uma crítica ao atual presidente, em especial ao discurso bélico e violento que ele reproduz.
Eu acredito que o rock sempre foi, via de regra, contestador, e que as críticas aos modelos políticos opressores e imbecis sempre devem permear as composições e a postura dos artistas. Hoje em dia existe uma onda conservadora acéfala que está imiscuída em todo mundo, e é claro que alguns não vão gostar de posicionamentos políticos como o nosso. Mas paciência... Minhas letras vão sempre refletir meu pensamento e visão acerca da realidade. Sobre a recepção do público, de maneira geral, as pessoas gostam bastante dessa música, em especial os professores!
Alemão: Eu gostaria de acrescentar que toda crítica, quando fundamentada, é válida. Tenho uma visão meio deprimente, já que não tenho muita fé na humanidade, pois vemos pessoas de espectros políticos divergentes agirem e pensarem, no fundo, da mesma forma, deixando o diálogo de lado e apenas querendo impor a sua ideologia. Acho que vivemos um mundo bem doentio, então meu foco é mesmo na música. Mas o Thiago é um cara excepcional para captar a realidade, gosto da visão que ele acaba colocando nas letras. E foi uma coisa que me cativou também, fora a música em si. No final, eu respeito muito quem protesta por mais empatia num mundo tão hipócrita, não por comprar uma ideologia e apenas atacar seu opositor. Passei dos 50 anos, e até hoje não tive oportunidade de ver um político que eu possa admirar. O que explica bem minha falta de fé na humanidade, já que nenhum político desceu num disco voador, todos saíram do seio da sociedade.
Rock Borders: O single "V de Vingança" (2019) já chegou bem pesado, falando diretamente da obra de Alan Moore. Como foi escrever sobre esse magnífico trabalho do "Mago Anarquista" dos quadrinhos, e magnificamente ilustrada por David Lloyd (que talvez tenha ficado mais conhecida pela obra cinematográfica dirigida por James Mc Taigue)?
Thiago Ridolfi: Além da literatura brasileira e universal, também sou muito fã de quadrinhos. Alan Moore é um grande gênio contestador. Gosto, em destaque, da crítica revolucionária que ele faz na obra “V de Vingança”. Afinal, nada mais rock n´ roll que a figura de Guy Fawkes tentando explodir o Parlamento Inglês, não?
Rock Borders: Como a banda foi formada já há alguns bons anos, antes da pandemia para ser mais exato, como em geral era a resposta do público ao som praticado pela banda?
Thiago Ridolfi: Na verdade não temos ainda um público definido. Tocar música autoral é um desafio enorme em nosso país. As casas de show não se mostram muito abertas à banda, por isso ainda estamos tentando galgar nosso espaço. A maior parte do nosso público são amigos próximos e pessoas que eventualmente conhecem a banda através dos serviços de streaming. A luta é para mostrarmos nossas músicas para um número cada vez maior de pessoas.
Rock Borders: Já há ideias para algum novo lançamento? Quando poderemos prestigiar um novo trabalho da banda, e quais são os planos a curto e longo prazo para a Dalia Negra?
Thiago Ridolfi: Queremos gravar um single ou EP no fim do ano com o Alemão. Acredito que chegamos em nossa melhor formação e desejamos muito registrar nosso entrosamento e prazer em fazermos música juntos. Eu sou apaixonado por compor, então tenho muitas músicas feitas que estão aguardando para gravarmos. Acho que dá pra fazer mais uns quatro discos com o que já temos!
Alemão: Realmente o foco agora é gravar algumas coisas, porque o Thiago já tem muita música pronta, e não para de trazer novas ideias (risos). O cérebro dele é uma máquina de pensar no sentido mais estrito que você possa pensar. Vem muita coisa boa por aí.
Rock Borders: Para finalizar, gostaria de agradecer pelo tempo disposto para a entrevista, lhes parabenizar pelo trabalho do grupo, que inclusive, se me permitem opinar, achei que traz uma amálgama legal entre o novo e o velho dentro do cenário do Rock Nacional. Deixo o espaço para as considerações finais.
Thiago Ridolfi: Nós que agradecemos! A música autoral precisa muito se fortalecer e encontrar seu espaço. Nesse sentido, todo apoio é muito bem-vindo! Esperamos em breve podermos estar viajando o país levando nossa música e carregando com muito orgulho a bandeira do rock nacional!
Alemão: Obrigado pela oportunidade, e nos vemos na estrada do rock!
Da esq. para a dir. José Alfredo "Alemão", Gabriel Jarbas e Rafael Ridolfi. |
muito legal !!!!
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