Marcus Farrapo é uma das vozes mais únicas do cenário nacional do Rock/Blues. Com seu timbre grave, lembrando um Raul mais "enfezado", e portando a mesma qualidade do mesmo em planar sobre falsetes com uma naturalidade excelsa, mas indo mais além, com algo bem característico, não só na voz, mas também na sua maneira de tocar e compor, esse cara, que tenho a honra de ser amigo desde a época que tínhamos cabelos (risos), nos fala um pouco nessa breve entrevista, que poderia facilmente se estender por horas, sobre a quantas caminha a banda Orifício dos Deuses (sem demagogia, uma das mais criativas do cenário nacional na atualidade) e de sua interessante carreira solo, que caminha na linha do Rock, Folk, Blues. Acompanhem!
Rock Borders: Salve, meu grande amigo Marcus Farrapo! Sempre bom bater um papo com você, e me sinto honrado em poder lhe entrevistar, pois te conheço desde quando eu era um jovem "Padawan" de 10 anos de idade (risos).
Primeiramente vamos começar falando da mais recente volta do Ricardo (Madi) para a banda Orifício dos Deuses. Lembro que na última entrevista que fizemos discorremos sobre a saída dele, agora é bacana poder falar sobre sua reintegração a banda. Como se deu a volta do mestre "Saladino"?
Marcus Farrapo: Fala, meu nobre camarada Renato! É sempre um prazer bater um papo contigo. Pois é! A nossa amizade remonta aos tempos de minhas longas e falecidas madeixas (risos). Sobre a volta do Ricardo na banda Orifício dos Deuses, foi como um(a) ex que você gosta muito, bate aquela saudade e você resolve propor uma reconciliação (risos). O Ricardo além de ser um dos fundadores (o outro, sou eu), é parte da essência da banda, nas composições, direcionamentos, harmonia entre os integrantes.
Rock Borders: Eu sei que a banda entrou num hiato durante a pandemia, obviamente que compreendo os motivos, e você deu mais ênfase para suas composições. Está definido o que vai ser solo (caso sejam voltadas para um trabalho solo) ou quais composições serão destinadas ao Orifício (risos)?
Marcus Farrapo: Eu não me canso dos trocadilhos com o nome da banda. Eu mesmo adoro usar desses recursos (risos). Realmente, com a pandemia, comecei a desenvolver um trabalho mais íntimo, com canções mais “sóbrias”, só com voz e violão. Pretendo levar adiante, pois é uma proposta diferente da banda. Parte, são músicas compostas há um certo tempo, mas por questões estéticas, preferi não colocar no Orifício (risos). Mas também tem músicas compostas recentemente. Reservei pra banda as músicas que já tocávamos, e outras composições, ainda não inseridas, com um teor mais anárquico e debochado.
Rock Borders: Você possui um timbre de voz único e muito carismático, e junto com os outros integrantes, Alan Borgers (baixo) e o recém "ressuscitado" Ricardo Madi (guitarras) vocês fazem um jogo de voz bem interessante nos sons, peguemos por exemplo as terças maravilhosas da música "Perfume de Dênde", que possui um dueto vocal belíssimo. Além de instrumentais variados e logo vamos chegar a questão sobre o conteúdo lírico, mas por agora, se tratando especificamente da parte musical, quais são suas principais influências?
Marcus Farrapo: Opa, valeu! "Perfume de Dendê" foi a primeira composição da banda. Na época, não existia baixista, nem baterista. Vou elencar algumas fontes de inspiração da banda: Muddy Waters, Beatles, Rolling Stones, Black Sabbath, Deep Purple, Eric Clapton, Serge Gainsbourg, David Bowie, Nick Cave, Tom Waits, Mutantes, Ramones, Volta Seca, Trini Lopes, Johnny Cash, Elvis Presley, Howlin’ Wolf e por aí vai...
Rock Borders: Sobre as letras, a banda Orifício dos Deuses dá um desfile de sarcasmo e provocações com uma ríspida acidez poética, inclusive poesia também está presente no conteúdo lírico da banda. Marcão, você poderia nos falar um pouco sobre essa gama de influências que rendeu tantos temas bastante interessantes e inteligentes?
Marcus Farrapo: Obrigado pelas palavras, Renaton! Eu gosto muito das letras do Bob Dylan. Musicalmente, falando, é a principal influência. Mas existe uma forte presença de Baudelaire, Nietzsche, Marquês de Sade, Will Eisner, Brecht, Manoel Bandeira, Drummond, Ferreira Gullar, Cruz e Souza. Há também influência de um poeta chamado Ricardo Madi Abeid. Com tantos nomes, a banda toda bebe da cultura pop, do cinema, das bobagens de babar. Estruturalmente, isso nutre as composições como um todo.
Rock Borders: Eu já participei da banda, inclusive foi uma experiência muito boa, e a banda já passou por várias formações desde os seus primórdios, mas parece que com a estabilização da "cozinha", composta pelo Nando (Fernando Mazzochin) e por Alan Borges (baixo e "backing vocals") a banda adquiriu uma consistência poderosa, que trouxe muita coesão para o grupo. Você poderia nos falar como foi lidar com tantos músicos, e qual o seu parecer sobre a formação atual do Orifício dos Deuses?
Marcus Farrapo: Sua passagem foi importante na bateria do Orifício dos Deuses. Nossa música "Atirei na Platéia" tomou seus primeiros goles de sonoridade com você (risos). Grande parte dos músicos que passaram pela banda foi uma experiência para seu crescimento. Alguns, com pouca afinidade com o que queríamos fazer, outros, colaboraram muito para seus primeiros anos de vida, além de você, a baterista Alexia nos quebrou um galho, na fase recém-nascida do Orifício, quando todos os outros bateristas se esconderam em bandas covers, aqui, na cidade de Arapongas. E o Yuri, no contrabaixo, um amigo de faculdade que foi pré-decisivo na formação da persona da banda. Não posso esquecer do guitarrista Hudson, que nos apoiou quando houve o rompimento com o Ricardo. Já alguns, surgiram com a poeira e se foram com um raio. Eu costumo falar que essa formação é a oficial e definitiva. Temos um ótimo entrosamento e as músicas nascem com a facilidade de um coelho parindo. Não vejo mais o Orifício sem a presença do Nando, Ricardo e Alan. É a mesma coisa dos Trapalhões sem o Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.
Rock Borders: Você poderia nos falar um pouco sobre a produção do documentário da banda?
Marcus Farrapo: O documentário se chama "Orificiaria e Outros Insultos", produzido em 2018, pelo Luan Benedito. A principio, era para ser um videoclipe, mas mudei de idéia, e optei por registrar um dia de ensaio e apresentação da banda, intercalando com os integrantes contando sua história e expondo sua personalidade. O resultado ficou bacana. Foi bem assistido e comentado. A apresentação foi num bar de classe tosca-média, aqui em Arapongas. Caso fossemos fazer o documentário hoje, faríamos em outro lugar. De preferência, no puteiro.
Rock Borders: Parece que vocês andaram em negociações com uma gravadora, a quantas andam, e há a possibilidade de um lançamento "orificiano" através de uma gravadora ou mesmo planos para um disco?
Marcus Farrapo: Estamos, sim. E por sua intervenção (risos). Estamos só esperando o sinal verde do produtor Ulysses Christianini, da Pisces, para iniciarmos o trabalho. Mas já estamos acordados, a princípio, de trabalharmos juntos. A intenção é gravarmos um álbum, em breve.
Rock Borders: Bem Marcon, por hoje é só! Obrigado por conceder a entrevista e deixo o espaço para suas considerações finais. Um abraço!
Marcus Farrapo: Renaton, gosto muito de trocar idéia com você. Ótima pessoa, ótimo músico e ótimo amigo. Seja numa entrevista, pelas redes sociais ou pessoalmente. Você é um cara que só tem a agregar num diálogo, pela bagagem de conhecimento que tem, que não se restringe à música. Um abraço, meu velho camarada!
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