Carsten é o nome por trás da "one man band" alemã Waldseel, que pratica um Atmospheric Black Metal muito bem feito e único, e já possui cerca de vinte lançamentos, entre albums e um vasto catálogo de demos, EPs e splits.
Rock Borders: Antes de mais nada, obrigado pelo tempo disposto, Carsten! Caso não se importe, vamos começar falando sobre os primórdios da Waldseel. Como ocorreu a gravação da primeira demo "Tanz des Nebels unterm Firmament" de 2012, e quais são suas impressões sobre esse trabalho atualmente, quase dez anos após seu lançamento?
Carsten: As gravações para "Tanz des Nebels unterm Firmament" foram as primeiras com esse projeto que eu fiquei satisfeito. Tudo soa bem "flat" comparado com o que faço agora, mas todos os arranjos saíram da maneira que eu imaginei. Houveram algumas "jam sessions" com alguns músicos convidados anônimos em 2008/2009, mas o material não foi usado, pois eu não fiquei completamente satisfeito com os resultados (os sons soavam bagunçados e não apresentavam nada de especial). "Tanz des Nebels unterm Firmament" foi o primeiro passo para eu criar a atmosfera que almejava.
Rock Borders: Quais são os temas e assuntos preferidos abordados por você para o conteúdo lírico da Waldseel?
Carsten: Natureza, espiritismo, sonhos obscuros e emoções destrutivas em relação à sociedade.
Rock Borders: Apesar da Waldseel ser uma "one man band", sabe-se que você costuma fazer apresentações ao vivo. Em geral, como é o respaldo do público? Encerrando a questão, a Waldseel já se apresentou fora da Alemanha?
Carsten: Eu inicialmente comecei a tocar ao vivo em agosto de 2015 quando Anxietas e D.H. (que entrou depois, em 2016) se juntaram à banda como membros apenas para os shows. Desde então sigo me apresentando (com ou sem eles, dependendo do tipo da apresentação).
Sobre a questão de tocar fora da Alemanha, ocorreu um concerto na Suíça, em outubro de 2016, junto com a banda Chotzä. Essa apresentação rendeu um split entre as bandas, que foi lançado em fita cassete.
Rock Borders: "Der Geister alter Zorn", lançado em 2014, foi o primeiro full-lenght da Waldseel. Dos nove sons presentes no album, cinco são instrumentais, incluindo a "intro" e a "outro". Você pode nos contar alguns detalhes sobre esse lançamento?
Carsten: "Der Geister Alter Zorn" possui quatro sons na linha Black Metal e três faixas numa linha "Ambient". O album é um combinação de sons com uma "vibe" crua e mística, combinada com uma atmosfera mais perturbadora. As baterias (que parecem quase fugir das canções) foram gravadas com uma "Zoom H2" num pequeno porão de um amigo que vivia perto de uma floresta, de onde eu tirei a minha inspiração para esse lançamento. O restante foi gravado em casa, com um equipamento melhor, mas ainda em oposição ao que normalmente as pessoas esperam. Em todos os meus trabalhos a sonoridade e arranjos trabalham de tal maneira para criar a atmosfera almejada por mim.
Rock Borders: Pessoalmente eu gosto da maneira como a Waldseel soa, assim como outras bandas com esse mesmo tipo de som; me refiro especificamente a maneira como soa a gravação e a masterização. Na minha opinião essa maneira de se registrar o material ajuda a melhorar a proposta desse estilo de música sombria e atmosférica. Mas há algumas pessoas que não conseguem entender isso, algumas inclusive que costumam ouvir Black Metal dizem que essa maneira mais "tosca" de gravação não soa bem. E acabam usando bandas com produções mais polidas como Watain, Dissection, Mayhem (atual), entre outras, para justificar essa maneira de pensamento. Obviamente que as pessoas são livres para pensarem como bem entenderem, mas qual é sua opinião sobre essa maneira mais crua e "lo-fi" de gravação/produção?
Carsten: Como eu disse anteriormente, a mistura dos arranjos e sonoridades que se ajustam as músicas são muito importantes para mim. Eu também não definiria todas minhas produções como cruas ou "lo-fi", mas eu consigo entender que pessoas que estão mais acostumadas com outros estilos de música sintam entranhamento. Black Metal é algo individual para mim, e não há gravações "certas" ou "erradas" desde que as tais gravações não soem como um grupo de Pop (com bandas tão "únicas" quanto as outras), ou para citar um contraste: alguém gritando para uma máquina de lavar em um estacionamento subterrâneo. Um compromisso autêntico sempre é importante. A qualidade das gravações das bandas que você mencionou por exemplo, no final das contas são realmente muito profissionais, mas também de certa forma, tudo é feito de uma maneira que se encaixa com a música que fazem, então ainda há o individualismo. Infelizmente existem vários projetos (sejam bem produzidos ou toscos) que soam todos a mesma coisa. Achem seus próprios caminhos ao invés de seguir "cartilhas musicais", galera.
Rock Borders: Fale-nos um pouco sobre Anxietas (baixo) e D.H (bateria) os membros que se apresentam nos shows com você.
Carsten: Eu também estou envolvido em outros projetos com eles. Tenho uma banda com o
baterista D.H., que se chama Erstarren, e Anxietas é o líder da Shards of A Lost World que eu toco nas apresentações ao vivo. Para ser honesto, a Waldseel e a Shards Of a Lost World tem os mesmos membros ao vivo, tocando instrumentos diferentes, com exceção quando me apresento solo, fazendo as linhas de bateria com os pés, o que eu faço de costume quando os dois projetos se apresentam juntos.
Algumas vezes você também poderá ouvir Anxietas e eu em pequenas participações em lançamentos um do outro.
Rock Borders: A respeito do lançamento dos outros Full-Lenghts, "Ritensang" (2015) e "Cultus Falsitatis" (2016), poderia nos falar um pouco sobre o processo de criação desses discos? E há planos para o lançamento de um novo album completo?
Carsten: "Ritensang" foi o lançamento mais estranho da Waldseel. Para ser honesto eu realmente não gosto mais de como ele soa, mas na época tudo se encaixava bem na atmosfera que eu queria criar ali. Hoje eu penso que foi muito mal produzido (em alguns momentos as guitarras soam como "ruído branco" e a mixagem de todos os instrumentos ficou uma porcaria). Mas ainda existem duas coisas nesse album que me fazem ainda ouvi-lo de vez em quando: a maneira especial qual soa a atmosfera e os arranjos que a conduziram.
"Cultus Falsitatis" foi bem melhor produzido e canções como "Ilfreen", "Ebenen" e "Lower Saxonian Atmospheric Black Metal" cunharam meu trabalho. No entanto eu preciso dizer, "Ritensang" foi um lançamento mais interessante pois os sons não citados do "Cultus Falsitatis" são menos criativos na minha opinião.
Vai sair um novo Full-Lenght, chamado "Schwärzend", que deverá conter os bons traços de ambos os lançamentos em sua produção. Só será lançado em vinil pela "Narbentage Produktionen" (N. do R. - produtora/selo). Já está à disposição um vídeo para o som "In des alter Waldes Fängen", qual você pode assistir e ouvir no Youtube para poder ter uma impressão de como soará o album.
Rock Borders: A respeito dos EPs e splits, você pode nos falar um pouco sobre esses lançamentos? E quais seriam seus favoritos?
Carsten: Meus lançamentos favoritos são "Herbsteinbruch" (EP, 2012), "Herbstgesan und Wintergeist" (EP, 2015), "Schleier unentdeckter Pforten" (EP, 2017), e a compilação de 2020.
Eu recomendaria também a você o último split "Northern Alliance" (Waldseel/Shards Of a Lost World/Funeral of Decay/Lvrkëath).
Rock Borders: Agora mudando de assunto, como a pandemia do Corona Vírus afetou o seu trabalho artístico? Falo sobre isso, pois sabe-se que a pandemia causou muitos problemas, principalmente para os músicos em particular, e eu não acho que tenha sido muito diferente mundo afora.
Carsten: Foi difícil ensaiar com a Erstarren pois nós vivemos em partes diferentes da Alemanha e não estava permitido se encontrar com esse tipo de intuito. Para o Waldseel não mudou muito (exceto pelos ensaios), porque gravo meus sons em casa, onde possuo todo o equipamento para registrar esse projeto. De qualquer forma 2020 foi um ano bem caótico para a organização dos meus projetos, e fico feliz que a maioria das datas de lançamento puderam acontecer dentro do planejado.
Rock Borders: Carsten, você poderia nos falar um pouco sobre os demais projetos/bandas quais você está envolvido?
Carsten: Se eu fosse te contar a respeito de cada projeto que estou envolvido, essa entrevista seria um tipo de novela...
Vamos focar nos meus três projetos principais, Waldseel, Erstarren e Dark World's Spell.
Waldseel faz um som cru e obscuro, como eu disse, Erstarren é mais melancólico e focado em emoções pessoais. Dark World's Spell pode ser visto como um projeto paralelo ao Waldseel, com quatro membros focando mais no lado "épico" da atmosfera que eu e os demais membros queremos criar. É mais dominado pelos teclados e a atmosfera é mais "etérea". Se você comparar os dois projetos diretamente, o Dark World's Spell leva você através de pântanos místicos até fortes na floresta, enquanto a Waldseel espera por você, e te soca na cara!
Rock Borders: Obrigado pela entrevista, meu amigo. Por último, mas não menos importante, qual lançamento da Waldseel você recomendaria para alguém que vai ouvir a banda pela primeira vez?
Carsten: Eu acho que minha última compilação "Schatten über der Narren Präsenz/Geist fern dieser Welt" seria um bom começo para ser confrontado com o contraste da Waldseel.
YouTube: https://www.youtube.com/c/waldseel
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