Yuri Padial possui a capacidade imensa de traduzir o tétrico, o obscuro, o perturbador, o subversivo e o obsceno para o papel. Com um estilo bem pessoal e técnico, assim como renomados nomes das artes plásticas, você olha a obra e já sabe quem é o autor. Além de excelente ilustrador e artística plástico, Yuri também é uma figura detentora de grande ideologia! Acompanhem a entrevista com esse guerreiro do underground, deixemos as bandas encherem seus ouvidos e o Yuri Padial encher nossos olhos com suas grandes capas e obras.
Rock Borders: Saudações, Yuri Padial! Para começar a entrevista, como é ser um artista que se opõe ao atual governo, principalmente no meio do Rock/Metal em geral, onde há um número impressionante de apoiadores do presidente e de suas patuscadas e peripécias quixotescas?
Y.Padial: Salve! Agradeço pelo convite. E cara, é realmente cansativo por ser como você mesmo citou, impressionante a quantidade de pessoas assim que infestam e prestam esse desserviço pra o que sobrou da cena. Mas é ao mesmo tempo gratificante, porque a gente tá aí pra lutar contra isso e eu sei que estou do lado certo, o lado que condiz com quem eu sou e com o coletivo do qual fazemos parte. Só não deveria haver tantos infiltrados. O combate é contra os de fora e contra alguns de dentro, perdidos talvez. Pregam tanto a "união na cena" mas no ponto em que chegamos isso é um tiro no pé.
Rock Borders: A arte da camiseta com um cangaceiro zumbi com a cabeça decepada do presidente com os dizeres "Aqui Não, Caba Safado" lhe gerou muitos mugidos vindos do pasto (se é que me entende)?
Y.Padial: Sim, muitos mesmo. Eu admiro muito o povo do Nordeste que sempre lutou e sempre resistiu. A arte foi representação disso. Quando postei e começou ser compartilhado, a página no facebook sofreu muitos ataques de pessoas que se organizam exclusivamente pra isso. Essa foi a arte que mais recebeu "hate", mais até do que outras em que o degolado ou até esquartejado, é Jesus. Parece que os cristãos encontraram um substituto pra Cristo... Porém, todo esse "hate", também impulsionou positivamente, e aí sim o pessoal começou a pedir camisetas, que foram feitas e enviadas pra todo canto do país.
Rock Borders: Sobre a Infernal Arts, como começou seu interesse por desenho e artes plásticas em geral?
Y.Padial: Eu sempre gostei de desenhar, desde pequeno sempre foi a atividade em que eu me saía melhor e sentia prazer em fazer. Tive muito incentivo da família, principalmente de minha irmã, que desenhava na época, eu me espelhava nela. Com o tempo fui desenvolvendo meu próprio estilo e traço.
Rock Borders: Você trabalha com artes para capas de bandas, e acredito que seu gênero de trabalho é muito subestimado pela cena. Ainda mais quando vemos que muitos ainda optam por montagens toscas e sem personalidade, feitas usando programas de computador, o que sem dúvida matou um pouco do charme das capas (erro cometido até por bandas do mainstream, veja as artes de Dance of Death do Iron Maiden e Rabbit Don't Come Easy dos alemães do Helloween). Qual seu posicionamento à respeito do assunto?
Y.Padial: Compartilho dessa mesma opinião. Sou uma pessoa que julga totalmente um livro pela capa (disco ou EP no caso) Não é só a música que quero consumir, e nessa questão eu gosto que seja algo tradicional, seja desenho ou pintura. Capas "digitais" me broxam totalmente. E parece que, cada vez mais as bandas não estão dando a devida atenção pra essa parte, que sempre foi um diferencial no metal. Isso não pode se perder.
Rock Borders: Suas obras são geralmente cenários obscuros e caóticos, habitados por demônios e seres contorcidos, você poderia discorrer um pouco a respeito do que lhe inspira para tais trabalhos?
Y.Padial: Se formos olhar os rabiscos que eu fazia lá com meus 5 ou 6 anos, já podemos ver que esses seres já habitavam ali, nos meus desenhos e na minha mente. Existe beleza ali pra mim, não é a mesma beleza de uma flor ou de uma bela paisagem. Mas essa estética me fascina e atrai tanto quanto. A respeito de inspiração, muita coisa é fruto de uma mente meio doente, de sentimentos ruins que são predominantes além de sonhos, o que acaba indo tudo pro papel como representações.
Rock Borders: Como tem sido a procura de seus trabalhos? Você já estudou a possibilidade de ter a sua própria linha de merchandise com suas obras?
Y.Padial: A procura ainda é pequena, não produzo em larga escala, dependo muito de inspiração. E além disso, muitos dos que procuram querem "pagar com divulgação" isso é bem ruim, porque é o meu trabalho, não cobro nenhum valor exagerado e já comecei há algum tempo pra me sujeitar a isso. E sobre ter uma própria linha de "merchan", eu já pensei nisso sim e acredito que daria certo. Porém, quando corri atrás de fazer as camisetas, vi que demanda um investimento que atualmente não tenho como colocar nisso. Mas está nos meus planos pro futuro!
Rock Borders: Quais são as bandas do cenário nacional e internacional que você gostaria de trabalhar e acha quem suas obras combinariam com o seu estilo de arte?
Y.Padial: Na real eu não tenho essa pretensão por bandas específicas ou bandas mais mainstream. Do Black ao Thrash eu faço e gosto de fazer pro pessoal underground que não sejam "fachos". Isso já me anima demais.
Rock Borders: Muito obrigado pela entrevista, Yuri! Para nós é uma honra poder contar com um artista que se opõe abertamente contra facínoras e apoia o underground, como você faz. Deixo o espaço para suas considerações finais.
Y.Padial: Eu é que agradeço novamente pelo convite e pelo espaço.
Cuidem-se, vacinem-se e combatam esses tempos maus que se abatem sobre nós como puderem. Mantenham-se inabaláveis e certos da vitória!
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