segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Resenha: Vulture - "The End of Agony" (2020)



A banda Vulture é veterana do cenário underground nacional, e está na ativa desde 1996, então tendo isso em mente, e como tive o prazer de presenciar a banda ao vivo mais de uma vez, antes mesmo de iniciar a resenha já tive a certeza que iria me deparar com material de qualidade quando peguei o album "The End of Agony" para resenhar.


O disco inicia, e logo de cara fui bombardeado com melodias de extremo bom gosto, me lembrando muito o Death Metal da escola Sueca, e algo como as harmonias de guitarra de uma de minhas bandas favoritas, o Disscetion. A faixa "Straight to Hell" nos dá logo de cara a certeza de que a audição do disco será extremamente agradável, dado a qualidade do conteúdo lírico e principalmente pela produção e bom gosto da composição num quesito geral. A música é um tremendo petardo com destaque para as maravilhosas melodias de guitarra, e pelo vocal gutural sem exageros, que é vociferado com uma dicção digna de elogios pelo vocalista Adauto M. Xavier (também responsável pelas guitarras ao lado de Yuri Schumann).

O disco segue com a não tão cadenciada "Human Disease" com variações no trabalho de bateria muito interessantes, mostrando que Fabio Amaro domina muito bem seu instrumento, principalmente se tratando do trabalho com os arranjos de bumbo, que intercalados com "viradas" muito bem sacadas, gera a dinâmica necessária para o restante da composição, que mais uma vez jorra melodias interessantes durante o decorrer da faixa.

O terceiro som já deixa claro que estamos diante de uma obra prima, com palhetadas interessantes e o bom trabalho da "cozinha", que percorre todo o disco. As linhas vocais não querem reinventar a roda, mas são inseridas da maneira mais correta possível, me lembrando muito as linhas de voz de Peter Tägtren do Hipocrisy. Com "blast beats" intercaladas a outros "grooves", dando uma dinâmica muito bacana para o som. 

E novamente uma introdução melódica em "Unholy Grave", com guitarras mesclando harmonias com terças e quintas (muito bem executadas), dando início a um riff empolgante. O baixo de Max Schumann é discreto, porém competente. Já "Descendent Ways" é Death (a banda) puro em sua introdução, e novamente nos brinda variedade e instiga a audição, que continua a surpreender pela variedade da mudança de ritmos além de um trabalho de cozinha e guitarras heterogêneos na medida perfeita.

"Land of the Dead" me remeteu ao trabalho atual dos alemães do Kreator, com exceção das "blast beats", é claro. Logo a faixa descamba novamente para o que há de melhor nas influências do Death Metal Melódico sueco, mas ainda mantendo a pegada Thrash Metal mais melódica do já citado Kreator, criando uma amálgama surpreendente. 

"Falsas Ilusões" enfatiza a excelente dicção de Adauto, que cantando em português ou em inglês, não embola as palavras, mantendo o controle absoluto de seu gutural bem característico. Essa música é um bom diferencial ao disco, e traz equilíbrio no momento certo ao trabalho, mantendo a atenção do ouvinte e causando aquela instigação para a sequência do disco.

"Conscience of Death" já chega no tempo de 6/8, mantendo o album variado e intrincado, e mostrando o que todos já sabem; que esses caras sabem muito bem o que estão fazendo. A faixa me remeteu a banda finlandesa Insomnium. "Signs of Decadent Days" com sua pegada melancólica e excelente trabalho lírico, traz interessantes linhas de guitarras sem distorção, e que já haviam ocorrido no disco outrora, inclusive, e uma melodia bem marcante de guitarras. Uma faixa bem interessante e cativante também, com um solo batizado em bom gosto e sem virtuosismo desnecessário. O album é claramente genuíno e caminha em prol da música, não possui amostras ególatras por partes dos músicos, mas sim técnica e "know how" quando o assunto se trata de composições. 

"The Butterfly Effect" nos traz tudo de melhor da banda, com um destaque especial para o baixo, e assim como a canção seguinte, "Many Tales to Believe", nem nos dá a impressão de que a audição do (excelente) disco, está chegando ao fim, o som traz novamente um solo marcante e inspirado.

De repente, baixos e guitarras surgem em uma harmonia muito legal, nos introduzindo ao último som, "Agonia", cantando em português, como fica nítido pelo título, e que foi um dos sons que mais gostei, apesar de ficar difícil destacar alguma faixa do disco, sendo que todas possuem suas características marcantes. O album se encerra com classe, com um trabalho lírico filosófico, e nos faz querer que o disco tivesse pelo menos mais umas cinco músicas para apreciarmos, e quando você termina a audição do trabalho de uma banda dessa maneira, pode ter certeza de que a "tarefa de casa" foi feita com excelência.

Só para encerrar, o trabalho gráfico segue a tradição da banda, sempre muito bem feito, e mostra todo o esmero desses verdadeiros guerreiros do underground, que é uma constante ao logo da carreira da banda. 

Ouçam várias vezes e comprem o album sem medo.