domingo, 19 de setembro de 2021

Diabállein: The Wretched Essence

Venho há alguns dias analisando o disco dos guerreiros do Diabállein, assim como faço com qualquer trabalho que me proponho a resenhar. Não dá para tirar uma conclusão definitiva de um disco apenas escutando a obra uma vez, ou em apenas um dia (e inclusive não é justo que assim seja), e como o Black Metal é o estilo que eu atuo ativamente como músico e apreciador há mais de 20 anos, então me sinto "em casa" para poder avaliar esse tipo de trabalho. 

O album, da banda oriunda de Monte Alto - SP, tem início com uma introdução que me lembrou distantemente algo dos noruegueses do Emperor, com o canto sinistro ao fundo da Urutau, que recebe seu nome diretamente da língua tupi e significa "ave fantasma", criatura inclusive bem emblemática e que é encontrada no Brasil e em outros países da América do Sul. O lamurioso trilar da ave e as lendas que envolvem a mesma, dão o tom tétrico necessário para iniciar o disco, inclusive temos uma bela capa com a já citada Urutau protagonizando, junto a uma portentosa Lua cheia, a soturna arte do full-lenght, com belos e funestos tons púrpuras permeando a ilustração, que é de encher os olhos.

A faixa "The Wretched Essence" é uma canção bem interessante, a parte lírica fala basicamente de transtornos mentais e suicídio, não é nada de novo, mas a sacada legal é o tom "maníaco" da narrativa, que é bem imersivo e conta até com o som de um tiro para complementar a loucura (no bom sentido). O trabalho é de 2016, foi gravado no "ART Studio" e mixado e masterizado por Danilo Penhabel, que aliás, fez um trabalho muito bom, mas o problema é que os vocais foram mixados de uma maneira análoga ao restante do disco, estão quase que chafurdados no instrumental, e se não fosse pela assessoria me mandar as letras, eu não poderia identificar uma palavra sequer que está sendo vociferada por Octavivs Voxum, que com seus vocais guturais, transita com naturalidade entre timbres mais agudos (visceral) e graves. A bateria soa muito bem timbrada, o baixo está muito presente e dá para facilmente destacar o trabalho da "cozinha" dos "riffs" e bases de guitarra, que aliás trabalham melodias pra lá de legais e que harmonizam perfeitamente com o baixo durante toda a extensão do album

Só para encerrar a questão dos vocais, que fique claro que não é nada que atrapalhe a audição do disco, eu até entendo a (possível) proposta aplicada, e já ouvi várias outras bandas que deixam os vocais num volume um pouco mais baixo na masterização, muitas vezes para criar uma atmosfera de maior imersão e não deixar que o vocal se torne, de certa forma cansativo, já que no caso do Diabállein as canções são bem extensas, e aliás essa (os vocais mais imersos na mixagem) é uma característica usada por algumas bandas, podemos citar aqui como exemplo os finlandeses do Insomnium

Bem, o album segue, e chegando na terceira faixa (contando com a "intro") já consegui me acostumar com a mixagem do vocal, e recorrendo à letra, percebi que se trata de um tema bélico, não tão comum no estilo, pelo menos não da forma qual aqui foi abordado (talvez algo em uma banda no estilo do Manowar não causaria estranhamento), mas que com o charme pessoal da banda funciona bem. A canção, que leva o título de "Cursing the Innocence of Their Reality", surpreende com linhas de teclado ao final do som, o que conferiu um tom bem épico à sonância. Grande música! E com um solo bem legal, que me remeteu ao Enthroned, de músicas como "Evil Church" (apenas o solo de guitarra), por exemplo.

"Legends of the Seven Catacombs (Christus Leprosus)" já começa com vocais guturais e apesar de cadenciada, se fazem presentes linhas de guitarra palhetadas em semicolcheia e os bumbos idem. Aliás o trabalho da "cozinha" de Ivan Phobos (bateria) e Lemonius (baixo), complementa com zelo todo o disco, e ambos estão de parabéns pelas performances registradas em seus devidos instrumentos. A faixa varia bastante com algumas "blast beats" na bateria e mudanças nas melodias, mas infelizmente a partir dessa canção o album já começa a cansar um pouco, vou explicar o motivo dessa minha opinião a seguir.

"Hanged in a Centennial Wood" tem, com toda certeza, a sua personalidade, e todas as músicas possuem um padrão de qualidade elevado, mas a audição do disco todo numa "pancada só" não é tarefa para qualquer headbanger "zé coletinho", estamos diante de uma obra complexa, de uma verdadeira viagem (longa) aos confins obscuros do Black Metal. Continuando ao som; a letra trata de suicídio, e apesar de não "reinventar a roda", possui um atrativo poético, apesar de sua simplicidade.

A canção intitulada com o nome da banda, "Diabállein", lembra algo como Darkthrone, mas ao decorrer do som, a personalidade da banda dá as caras, e assim como a última canção, "Omnia Mea Merum Porto" (minha favorita), trazem grande variedade de ritmos, o que percebe-se que é o que a banda se dispõe a fazer durante a extensão desse opus. Uma questão a se salientar, e que não falo de forma pejorativa, é que conforme o decorrer do trabalho, fica mais e mais difícil conseguir destacar alguma coisa em específico, porquê o que a banda traz como características próprias e únicas, estão aplicadas de forma uniforme em todos os sons, então depois da segunda música não há nenhum momento que surpreende o ouvinte, o que faz dessa uma obra homogênea e centrada no que se propõe a ser. 

Resumindo, a audição é indicada apenas aos entusiastas do Black Metal. O disco é ruim? Não, nem de longe, mas também não é um trabalho fácil de ser digerido, e apresenta (um bem vindo) paradoxo entre a simplicidade do Black Metal de bandas como o já supracitado Darkthrone (de albums como "A Blaze in the Northern Sky" e "Transilvanian Hunger") e Nargaroth, e melodias intrincadas e com momentos variados, nesse quesito, total destaque ao trabalho executado pelo guitarrista Jean Misfortune, que dá um show de harmonias tétricas e muito bem empregadas. Destaco aqui as canções "Omnia Mea Merum Porto" e "The Wretched Essence". Aos verdadeiros apreciadores do estilo, com certeza esse petardo será um prato cheio!

Um bom começo! Já foi anunciado que a banda trabalha em mais um trabalho, e pode ter certeza que estamos no aguardo! 






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