Com um processo de composições quase em escala industrial, o Beyond Chaos, "one man band" de Osasco/SP, com poucos anos de existência, já nos brinda com quatro excelentes trabalhos. São discos com temáticas líricas ricas, e que apesar de serem temas muito pessoais de Thiago Alboneti, o cabeça da banda, abordam tópicos extremamente reflexivos e interessantes. A música? Bem, esperem o mais brutal e coeso Death Metal, feito com paixão, técnica e conhecimento de causa. Acompanhem o papo!
Rock Borders: Saudações, Thiago! Antes de mais nada, gostaria de lhe parabenizar pela tremenda versatilidade e pela qualidade apresentada em seus trabalhos.
Thiago Alboneti: Eu que agradeço por toda oportunidade e apoio.
Rock Borders: Você já está no seu quarto album com a Beyond Chaos, você acha que seria possível ter conseguido chegar até a marca do "tetra" tão rapidamente se estivesse acompanhado por uma banda com outros membros? Visto como é difícil achar músicos que levam a sério o cenário underground.
Thiago Alboneti: Creio que não! Como sou eu que faço tudo sozinho e não tenho uma banda de apoio, tudo se torna mais fácil. Em uma banda teríamos que, a cada lançamento focar em shows para divulgar aquele trabalho, e isso tornaria o processo de criação para um próximo album mais difícil. E não que isso seja demérito de ninguém, até porque é assim que a música funciona, o artista tem que levar sua música ao público com shows. Porém como eu escolhi fazer tudo eu mesmo e sem nenhuma banda, eu não tenho a preocupação de shows, tornando o processo de lançamento de discos um pouco mais rápido
Rock Borders: Poderia nos dar detalhes sobre o processo de composição da parte musical e também a respeito do teor lírico do debut "The Mind Trauma" (2019), e quais são as principais influências para o seu trabalho?
Thiago Alboneti: O processo de composição muitas vezes são situações minhas mesmo, e textos de psicologia a qual gosto bastante de ler. O "The Mind Trauma" não fugiu disso, porém ali eu escrevi de maneira mais “tímida” pois ainda tinha receio de como as pessoas podiam reagir, então nesse album as letras são mais voltada ao padrão Death Metal mesmo, com algumas poucas musicas voltadas a temas pessoais.
Sobre o processo de composição, é bem simples: Eu imagino um riff e tento reproduzir ele na guitarra. Assim que eu acho que ele está bom, eu vou e penso nos outros instrumentos e a melhor forma de encaixa-los ali. As harmonias de teclado de minhas músicas primeiramente são feitas e escritas na guitarra, para depois eu adicionar os teclados. Eu acho que pra mim funciona mais fácil desse jeito
No Beyond Chaos eu tenho influencias de muitas bandas do Death e Black Metal, mas acho que no geral (e por ouvir muito) na parte instrumental eu me baseio muito em bandas como Belphegor, Marduk, Edge of Sanity, Bolt Thrower, Naglfar, Behemoth e etc..
Rock Borders: O Beyond Chaos alcançou uma maior maturidade no seu segundo lançamento ("Home, Sweet Prison" - 2020) e estabeleceu certa relação mais íntima com uma sonoridade mais técnica, você poderia discorrer como foi para você esse processo de evolução, que aliás segue nos trabalhos atuais.
Thiago Alboneti: Eu creio que por apoio das pessoas ao meu redor. Muitos amigos me ajudaram desde meu primeiro trabalho, então nesse album eu pude ousar mais, pois eu sabia que as pessoas estavam ouvindo aquilo. Então eu não tive medo de escrever sobre mais temas que no "The Mind Trauma" estão poucos presentes.
Sobre ser mais técnico, isso foi sobre a vontade que eu estava de fazer um album melhor que o outro, então veio de forma natural. Não estou dizendo que música boa é sempre a música mais técnica, até porque temos na história da música ótimas bandas que nem sempre os integrantes tem uma técnica apurada, mas fazem uma música de excelência. O que quero dizer é que eu poderia usar técnicas de guitarra e vocal que não utilizei no "The Mind Trauma", justamente pelo receio da recepção, e nesse album ("Home, Sweet Prison") há mais maturidade também. Então tudo isso veio de forma bem natural. Assim como alcancei o ápice da versatilidade no album "Memories From Last December" e "What I’ve Become"
Rock Borders: Você já pensou em algum dia performar as canções da banda ao vivo com músicos contratados (após o fim de todo esse caos pandêmico, é claro). Seria com certeza uma apresentação bem poderosa!
Thiago Alboneti: Na verdade não penso nisso, eu sou uma pessoa difícil de lidar, e sei disso. Costumo dizer que uma banda é um casamento de 5 pessoas e por conta de más experiências eu não penso mais em ter uma banda, mesmo contratada. Eu gosto de fazer as coisas do meu jeito tímido e sem pressão. E mesmo que sejam músicos contratados, eu acho que não iria conseguir voltar a rotina de ensaios como em tempos que eu já tive bandas. Hoje as coisas mudaram, o tempo é algo muito escasso para muita gente, e como o Beyond Chaos não é algo feito para fins lucrativos e sim apenas artístico, eu não teria tempo para monetizar as músicas como uma espécie de trabalho. Eu ainda prefiro que fique a arte pela arte, mesmo que eu não ganhe um centavo com isso. Mas tenho total ciência de que bandas não fazem o que fazem por dinheiro ou necessidade. Quem toca Metal, especialmente no Brasil, é realmente por amor a coisa, pois é algo muito desvalorizado por aqui. O que eu quero dizer é que eu, particularmente, não pretendo ter uma banda.
Rock Borders: "Memories from the Last December" (2020) é o terceiro disco, e apresenta um trabalho extremamente técnico, e você também alcançou a marca de dois albums lançados num mesmo ano. Como ocorreu esse salto para algo mais técnico e brutal ainda?
Thiago Alboneti: Eu não sei (risos); Eu acho que foi a sede e a vontade que tinha guardada durante todos esses anos de fazer música. Então quando eu vi que conseguia fazer tudo sozinho, eu coloquei pra fora todas as minhas idéias (ou quase todas) naquele momento. Eu comecei a compor o "Memories From Last December" logo em seguida que eu terminei o "Home, Sweet Prison". Nesse tempo eu também estava estudando mais sobre mixagem e masterização, então pude deixar o som dele mais rico, grandioso e pesado por conta da experiência que já tinha obtido naquele momento. E foi uma overdose musical tão grande que na verdade em 2020 eu lancei três albums, pois logo em seguida de eu ter lançado o "Memories From Last Decemeber" eu também criei um novo projeto de Doom Metal chamado Funeral Dawn e lancei o primeiro album desse projeto, se bem me lembro em agosto de 2020. Ele se chama "Inner Demons" e está disponível em todas as plataformas digitais de streaming, também.
Rock Borders: Como é a recepção do público em geral aos trabalhos do Beyond Chaos, e você já pensou em trabalhar com algum selo ou gravadora?
Thiago Alboneti: A recepção é muito boa, na verdade é melhor do que eu sempre esperei. Sempre recebi criticas bem positivas sobre meu trabalho e por especialmente eu falar sobre o que falo em minhas letras. Quando estou apresentando meu trabalho para outras pessoas e mostro todo o conceito por trás das músicas, é como se eu tivesse dando um tapa na cara do pessoal que diz que música extrema é só gritaria. É aquilo, quanto menos a pessoa entende sobre algo, mais besteira sobre aquilo ela vai dizer, e isso acontece muito especialmente no Metal Extremo. Então quando eu explico que nem tudo é “só gritaria” e que existe um contexto, uma mensagem por trás de todo o caos sonoro que ela está ouvindo, a pessoa se interessa mais pelo Beyond Chaos, e isso pode se tornar uma porta de entrada para outras bandas do mesmo estilo. Muita gente não ouve Metal Extremo pelo preconceito mesmo, mas quando passam a entender o que está acontecendo, aquilo pode se tornar um dos estilos preferidos da pessoa
Já fui atrás de alguns selos sim, mas nunca me deram muita atenção. Isso não quer dizer que eu vá desistir disso, afinal eu toco Death/Black Metal no Brasil, creio que desistir de algo não esteja em minha agenda
Rock Borders: "What I've Become", album que saiu em 2021 conta com temas mais pessoais, você poderia nos dar detalhes da concepção da obra, num quesito geral?
Thiago Alboneti: O ponto chave desse disco são as músicas "Weird (Mind Massacre)", "What I’ve Become", "A New Way to Kill" e "Demon Within" (essa música eu misturo fantasia com esquizofrenia). É como se eu estivesse contando situações que eu já passei em fases da vida desde a infância, situações que não desejamos para ninguém. Se em "Memories From Last December" eu falo num contexto geral, em" What I’ve Become" eu falo de mim.
Como dito outras vezes, a capa e o nome do album remetem a minha infância. A capa mostra um bebe segurando uma caveira, demonstrando que aquela criança não se tornou o adulto que ele gostaria de ser
Rock Borders: Você já tem mais alguma obra em mente? E o que podemos esperar do Beyond Chaos para um futuro próximo?
Thiago Alboneti: Eu tenho sim, mas não para o Beyond Chaos. Eu pretendo ao fim desse ano lançar um novo album com o Funeral Dawn.
Sobre o Beyond Chaos, eu ainda não sei dizer, é muito cedo pois acabei de lançar um album, e se eu fizer mais música para o Beyond Chaos fica muito pouco tempo para as pessoas digerirem tanta música ao mesmo tempo.
Rock Borders: Muito obrigado pelo tempo disposto, Thiago! Deixo o espaço para considerações finais, e vida longa e próspera ao Beyond Chaos e ao Metal Extremo! Um abraço!
Thiago Alboneti: Primeiro gostaria de agradecer o espaço que me deram pra falar sobre meu trabalho. Agradeço também todas as pessoas que me apoiam e gostam do meu trabalho. E para quem ainda não conhece o Beyond Chaos, deem uma chance e talvez você possa gostar, tire todo preconceito de música extrema que possam ter em mente e tente entender o que o autor da obra está querendo te dizer.
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